Radio Aleph
Radio Aleph
A conversation with J.P. Cuenca | Uma Conversa com J.P. Cuenca
0:00
-46:59

A conversation with J.P. Cuenca | Uma Conversa com J.P. Cuenca

→ Press play to listen to my conversation with Brazilian writer J.P. Cuenca (in Portuguese).

→ Aperte o play para escutar a minha conversa com o escritor brasileiro J.P. Cuenca.

The newsletter can be read in English or Portuguese. For the Portuguese version, scroll down. 
A newsletter pode ser lida em inglês ou português. Para a versão em português, arraste para baixo.

English Version

J.P. Cuenca was on my “Brazilian writers to read” list when a friend mentioned his name last year. “He will be interested in this topic,” he said. At the time, we were, my friend and I, on a crazy (and exciting) journey of trying to create a social movement to fight the murder of Black children in Brazil. He suggested that I talk to Cuenca to help conceptualize and publicize the movement. Only then did I read “Descobri que Estava Morto.” I tell this little story to say that my first contact with Cuenca was through politics. 

We talked a lot about politics in the podcast above - especially about the relationship between politics and fiction. I summarize his position with this edited quote:

My point is not that fiction should not fulfill a political function and generate empathy. My point originates before this: fiction does not have this obligation. (...) You can read all the novels that have been published to date in human history with a political focus. I don’t think they were necessarily written with the purpose of intervening. And perhaps having an intervention goal is not very productive for the intervention itself. (...) Fiction does not need to be a pamphlet. 

We also talked about the dystopian reality of Brazilian society. He recalls a scene from “Descobri que Estava Morto” in which a party takes place while there is a shootout between two criminal factions and the police. In response to the shooting, the party hostess pours more champagne and turns up the music. 

There are gunshots, people die, and these people in the party stay there, dancing, drinking...and then they go home, and the next day there'll be a tiny note on the newspaper, next to a big real estate advertisement, saying that ten, twenty, thirty, people died that night in a favela. And nothing. And it’s like that means nothing. It’s structure and a logic that dehumanizes the other. 

“Descobri que Estava Morto” is a book to be read and reread. I’ll leave the explanation of this sentence to the second newsletter, but all I’ll say is that I liked the book better on my second reading. “Qualquer Lugar Menos Agora - Crônicas de viagem para tempos de quarentena,” a newly released book of chronicles, absorbs you to the point that you finish the book without even realizing it. Cuenca writes truly beautiful chronicles (and gives us an encyclopedia of bars around the world!) that rescued in me the ability to be dazzled by the world in pandemic times. 

He recommends the following TV series that touches upon the intersection between politics and fiction: “Succession”, on HBO.

Versão em Português

J.P. Cuenca estava na minha lista “escritores brasileiros para conhecer” quando um amigo me falou dele no ano passado. “Ele vai se interessar sobre esse tema”, disse. À época, estávamos, eu e meu amigo, em uma jornada maluca (e empolgante) de tentar criar um movimento social para combater o assassinato de crianças negras no Brasil. Ele sugeriu que eu procurasse Cuenca para ajudar a pensar e divulgar o movimento. Só então fui ler “Descobri que Estava Morto”. Conto essa pequena história para dizer que meu contato com Cuenca começou com a política. 

Sobre política falamos bastante no podcast acima. Principalmente sobre a relação entre ficção e política. Resumo aqui a posição dele com essa fala (editada):

Meu ponto não é que a literatura de ficção não deva cumprir uma função política e de gerar empatia, de sensibilizar as pessoas. Meu ponto é anterior a esse: ela não tem essa obrigação. (...) Você pode ler todos os romances que foram publicados até hoje na história da humanidade com uma lupa política. Não acho que elas necessariamente tenham sido escritas com o objetivo de intervenção. E talvez esse objetivo de intervenção não seja muito producente para a intervenção. (...) A literatura não precisa ser um panfleto. 

Falamos também sobre a realidade distópica da sociedade brasileira. Ele lembra uma cena de “Descobri que Estava Morto” em que há um tiroteio entre duas facções criminosas e a polícia do lado de fora de uma festa. Em resposta, a dona da casa onde acontece a festa serve mais champanhe e aumenta a música. 

Tem os tiros, as pessoas morrem, e essas pessoas nesse apartamento ficam lá, dançando, bebendo...e depois descem, vão para casa, e no dia seguinte vai sair uma notinha minúscula no jornal, do lado de um grande anúncio imobiliário, dizendo que morreram, naquela noite, dez, vinte, trinta, pessoas na favela. E nada. E é como se fosse nada. É uma estrutura e uma lógica desumanizadora do outro. 

“Descobri que Estava Morto” é um livro para ser lido e relido. Vou deixar a explicação dessa frase para a segunda newsletter, mas já adianto que gostei mais do livro na segunda leitura. O livro de crônicas recém-lançado “Qualquer Lugar Menos Agora - Crônicas de viagem para tempos de quarentena” te absorve a tal ponto que você o termina sem nem perceber. Crônicas lindíssimas (e uma enciclopédia de bares ao redor do mundo!) que resgataram em mim a capacidade de me deslumbrar com o mundo em tempos pandêmicos. 

Por falar nisso, hoje, 01/11, acontecerá o lançamento presencial do livro na Ria Livraria, em São Paulo, a partir das 19h. Outro aviso: ainda estão abertas as inscrições para a oficina de escrita do Cuenca de novembro. Participei da última edição e adorei. Ele conseguiu abrir diversos caminhos mentais em mim a partir de discussões das obras de escritores como Lima Barreto, Ricardo Piglia e Virginia Woolf. Além disso, ele dá recomendações concretas para quem quer levar a escrita a sério. Um exemplo: a oficina inclui um encontro com ele de 30 min. Foi nessa conversa que percebi que preciso ser sistemática como escritora da mesma maneira que sou como pesquisadora. Ele me fez enxergar que a estratégia de anotar ideias em cadernos - sob o pretexto de que tudo é “processo criativo” - não vai me levar longe. Mais informações aqui

Recomendação de série do Cuenca que toca na temática ficção e política: a série “Succession”, na HBO.

0 Comments
Radio Aleph
Radio Aleph
Radio Aleph é um podcast sobre política e ficção apresentado por Beatriz Rey e produzido por Rafael de Angelis. Radio Aleph is a podcast about politics and fiction hosted by Beatriz Rey and produced by Rafael de Angelis.
Radio Aleph is a podca